Ferramentas de diagnóstico rural participativo
Existem muitas ferramentas para a realização de um diagnóstico participativo, conheça algumas delas:
- Entrevista semiestruturada
- Caminhada transversal
- Mapa participativo
- Linha do tempo
- Árvore de problemas
- Matriz de priorização de problemas
- Matriz FOFA
- Calendário estacional
- Diagramas institucionais ou de Venn
Entrevista Semiestruturada
Trata-se de um conversa informal, na qual são levantadas informações sobre a família, sistemas de produção adotados, relacionamento com a floresta, comercialização dos produtos, principais problemas enfrentados, sonhos para o futuro, entre outras. Nesse caso, o entrevistador se apresenta à família, contextualiza o objetivo do diagnóstico e procura conhecer a realidade, utilizando um roteiro que conduz a conversa. O roteiro serve para orientar a conversa, mas não deve engessá-la.
A técnica de entrevista semiestruturada busca evitar alguns dos efeitos negativos dos questionários fechados, onde não há possibilidade de explorar outros temas e há pouco espaço para o diálogo. É mais indicado que seja feito pelo menos em dupla, para que enquanto um conversa o outro anote. A conversa pode também ser gravada e posteriormente ouvida para colher as informações.
Caminhada transversal
As pessoas da comunidade fazem uma caminhada conhecendo as áreas de produção, de mata, quintais, pastagens, açudes, córregos etc. Os problemas ambientais também podem ser observados, como locais com erosão, poluição, problemas com a água e desmatamento. É interessante tirar fotos que possam ser utilizadas para o monitoramento do projeto, as quais podem ser usadas para uma comparação com uma foto do ‘antes’ e uma do ‘depois’.
Mapa participativo
O objetivo do mapa é ser um registro gráfico onde se pode identificar, por exemplo, a área ocupada pela atividade produtiva, a área de preservação e a distribuição dos lotes. Para fazer o mapa, desenha-se a propriedade, localizando as atividades desenvolvidas, ao mesmo tempo em que se conversa sobre elas. Esta ferramenta pode servir de ponto de partida para a discussão, no entendimento sobre as causas dos problemas, para pensar as alternativas, expressar desejos e visão de futuro.
Linha do tempo
A linha do tempo ajuda a relembrar fatos e momentos da história do lugar, do projeto, da comunidade, a partir de uma forma de visualização atrativa. Para a construção da linha do tempo, podem ser feitas entrevistas com os mais antigos, procura por fotos e filmes que retratem a história do lugar, jornais antigos, entre outros.
Para montar a linha do tempo, trace uma linha e, ao conversar com os participantes, procure saber quais os principais fatos que aconteceram marcando-os ao longo da linha. A linha pode ser horizontal ou pode representar altos e baixos (momentos bons ou ruins) dos fatos apontados. Com esta prática, as pessoas tomam consciência de sua história, contextualizam sua atuação e compartilham suas experiências.
Veja um exemplo de linha do tempo feita pelo Assentamento Buriti:
(clique na imagem para ampliar)
Árvore de problemas
A “árvore de problemas” é uma ferramenta utilizada para analisar a relação causa-efeito de um problema previamente determinado, seja no mapa da comunidade, na caminhada transversal ou na utilização de outras ferramentas. As raízes da árvore simbolizam as causas do problema. O próprio problema se encontra no tronco e os galhos e folhas representam os efeitos. A intenção é analisar um problema a fundo, com a finalidade de estabelecer as suas causas primárias. Estas causas primárias serão o ponto de partida para a busca de soluções.
Para elaborar, inicia-se desenhando uma árvore e colocando o problema identificado no tronco da árvore. Na discussão com o grupo, vão sendo preenchidos cartões com possíveis causas (raízes) e efeitos (galhos) do problema. As tarjetas vão sendo fixadas na árvore, ao tempo em que se discute se verdadeiramente são causa ou efeito, e, se for necessário, trocam-se os cartões de lugar. No debate final se discute quais das causas podem ser eliminadas ou controladas por atividades da comunidade.
Matriz de priorização de problemas
Na matriz de priorização o grupo deverá identificar os principais desafios ou problemas a serem superados para que se alcancem os sonhos da comunidade. Esses problemas podem ser levantados durante as entrevistas individuais ou durante uma atividade de grupo, com uma “chuva de ideias”, na qual o grupo lista as sugestões de cada um dos participantes sobre os problemas da comunidade. Depois de fazer uma lista, cada participante da reunião é convidado a marcar seu voto no item que acredita ser mais importante para ser resolvido. Ao final, será possível ver um quadro com a opinião dos participantes sobre os problemas prioritários a serem trabalhados.
Pode-se abrir também um momento em que as pessoas justificam sua escolha, podendo assim levar o grupo a aprofundar melhor a discussão. Se não for possível trabalhar com todos os problemas ao mesmo tempo em um projeto, a matriz ajuda a priorizar aqueles mais urgentes e/ou estratégicos.
Veja o exemplo a seguir de uma matriz de priorização:
Problema |
Quantidade de votos |
Prioridade |
Invasão da terra por madeireiros. |
30 |
1º |
Consumo de bebida alcoólica e drogas. |
15 |
4º |
Diminuição das roças, caça e outros alimentos tradicionais, pelas queimadas e falta de chuva. |
20 |
3º |
Grande taxa de evasão escolar. |
29 |
2º |
Crianças aprendem primeiro o português e muitas vezes não falam a língua materna. |
11 |
5º |
Fonte: Adaptação do resultado do exercício realizado com os participantes da 4º turma de elaboração de projetos realizado pelo Projeto CAPTA.
Matriz FOFA
A matriz FOFA permite analisar os ambientes internos e externos de uma organização em relação a um tema específico. Ela traz uma análise dos seguintes componentes: Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças. As fortalezas e fraquezas dizem respeito aos fatores internos, ou seja, sobre os quais pode-se ter mais controle, por exemplo, o nível de capacitação das pessoas da organização, a estrutura que possui etc. Já as oportunidades e ameaças dizem respeito aos fatores externos sobre as quais há menor controle, ou seja, poderiam ser considerada uma oportunidade a existência de um parceiro interessado em apoiar a comunidade.
Quando construída coletivamente essa matriz pode ajudar a identificar os recursos disponíveis (humanos, ambientais, econômicos e culturais) e os desafios a serem enfrentados, contribuindo muito para a criação do plano de ação. Para utilizar esta ferramenta, utiliza-se uma folha de papel grande, desenha-se a matriz e, dialogando-se com o grupo, a matriz é preenchida.
Calendário estacional
O calendário estacional mostra a época da safra dos produtos para que a comunidade possa se organizar com relação ao tempo para a colheita. Associado a este calendário pode-se, por exemplo, criar um mapa com a localização das áreas de produção. Também é possível quantificar a produção para cada produto.
Veja o exemplo a seguir:
Produtos distribuídos nos meses do ano:
Outra possibilidade é organizar um calendário para as principais atividades relacionadas aos sistemas produtivos, como plantio, manejo, colheita, vacinação dos animais, festas e trabalhos fora da propriedade. Organizando as atividades no tempo, percebe-se quando há mais demanda por trabalho e tempo, e que tipo de trabalho é demandado.
- Veja o calendário de frutificação do baru, na página da Central do Cerrado, que poderia ser utilizado para planejamento de atividades que envolvam o beneficiamento do fruto.
- A página do Canal Rural pode te ajudar com o calendário agrícola em todo o país.
Diagrama institucional ou de Venn
Esta ferramenta consiste em uma representação gráfica com círculos, que indica a importância (utilidade) e a proximidade, em relação à comunidade, de instituições, atividades e pessoas. Esta ferramenta propicia conversas sobre conflitos na região, presença ou ausência do poder público, entre outros.
A bola central representa a comunidade. Os parceiros são representados em outras bolas, no qual o tamanho é proporcional à relevância, ou seja, quanto menor o círculo, menor a relevância da parceria, e quanto maior, maior a relevância. Se o parceiro é próximo e acessível, sua bola é representada mais próximo, ou mesmo dentro, do círculo da comunidade. Conforme o exemplo abaixo:
(clique na imagem para ampliar)